tag:blogger.com,1999:blog-144094032024-03-13T14:39:28.537-03:00www.e.r.b.o...é o resultado de Contatos Mágicos. Datação:[1999-pela Poesia].
Antes de 1999 já era POE DIA TODO SIA. Há também F ATOS I MEDI ATOS. O Link é WWW.E.R.B.O. Sejam Bem-WWWindos! "A casa é NNNossa". P.S.: Algum(a) leitor(a) denunciou o conteúdo deste Blog...confesso que não vejo nada postado aqui que seja ofensivo ou constrangedor...se VOCÊ QUE NOS DENUNCIOU retornar aqui, receba nossas desculpas de coração aberto, e palavras, e portas abertas...entre pela frente, sem bater...AL-Chaerhttp://www.blogger.com/profile/01319209658905533440noreply@blogger.comBlogger199125truetag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-3919247882028340332011-07-07T08:57:00.000-03:002011-07-07T08:58:34.910-03:00Corpos.Nos desenhos geométricos<br />A cortina rasgada<br />pelo tempo perdido<br />Deixa o clarão<br />da lua penetrar<br />No quarto de diáfana luz<br />Inusitados desenhos lambem<br />Teu corpo ao meu lado nu<br />Teu meigo sorriso invade<br />O vislumbre das<br />estrelas distantes<br />O vento afasta a cortina<br />Numa refrescante sombra<br />Num vai e vem delicioso<br />De carícias em teu peito<br />Em teu rosto<br />Em teus olhos<br />Em teus cabelos<br />Entre tuas coxas<br />Perde-se no escuro emaranhado<br />De pêlos suaves e doces<br />Permanecemos imóveis<br />No silêncio de nos dois<br />Corpos colados flui<br />Sensação do meu ser<br />Para o teu ser<br />Adormecemos abraçados<br />Na luz da lua...<br /><br />PastorelliAnonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-36103333805268060952011-07-01T10:02:00.002-03:002011-07-01T10:02:53.408-03:00Civilização.Civilização será,<br />Morar na mata selvagem de concreto;<br />Ouvir o grito ressoando sem ser ouvido;<br />Ou o tropeçar constante no semelhante,<br />E o mentiroso cuspindo no próprio ser gerado?<br /><br />Civilizado, o que é?<br />Será o traiçoeiro matando para não ser matado,<br />Ou o assassino fugindo dos algozes e da justiça?<br />Será o egoísta vendendo a alma ao diabo,<br />Ou o ganancioso roubando para não ser roubado?<br /><br />Civilizado será<br />A crise insuportável no sobe e desce,<br />O medo escondido de ser traído,<br />Ou o dormir nas sarjetas imundas,<br />E o sorrir da criança pedindo esmolas negadas?<br /><br />Civilizado, o que é?<br />Será a prostituta se oferecendo a cada esquina,<br />Ou o trombadinha na multidão afanando?<br />Será o brilho da faca riscando o ar,<br />Ou o sangue no chão esborrifado?<br /><br />Civilizado... será,<br />A amante jogando no rio o amante cortado,<br />O marido traído batendo na mulher traída,<br />Ou a garrafa vazia numa boca a blasfemar,<br />E os veículos respeitáveis atropelando<br />Transeuntes descuidados?<br /><br />Civilizado...o que é?<br />Será o vício tresloucado na mente dos filhos abandona­dos<br />Ou a rapinagem dos grandes a engordar?<br />Será o político falando manso a enganar,<br />ou as leis absurdas não respeitadas?<br /><br />Civilizado será,<br />O progresso derrubando o que não é para derrubar,<br />O desmatamento sem necessidade,<br />Ou o morticínio dos animais,<br />E o índio queimado?<br /><br />Civilizado será,<br />O poeta e seus poemas,<br />A escrita denunciante,<br />Ou a boca que nunca cala,<br />E a imprensa ultrajante?<br /><br />Civilizado, meu Deus, o que é?<br />É isso tudo ou é uma<br />Desesperança esperançada<br />Na fé nunca perdida<br />E a crença na vida?<br /><br />Civilizado, ah! Civilizado!<br />É o amor sempre procurado.<br />É o filho nascendo.<br />É o esplendor da velhice surgindo.<br />É a morte... sempre chorada.<br /><br />pastorelliAnonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-23761616708990806342011-06-24T10:08:00.001-03:002011-06-24T10:09:22.205-03:00Cidade de alvenaria.Na fria cidade<br />Procura-se o álgido amor<br />Mas o IRA medra ao apagar<br />Das luz os olhos que se calam<br />E os mortos choram<br />Nos escombros entre pontiagudas<br />Pedras de alvenaria<br />As almas se machucam<br />Em infrutíferas tentativas de viver<br />Mas a solidariedade<br />Tem olhos apagados<br />E para a cama ensangüentada deitam<br />Os corpos desfalecidos de amor<br />Em fuga desabalada<br />De si próprios em noites perenes<br /><br />Na fria cidade<br />Onde se procura o álgido amor<br />O ensurdecedor estrondo<br />Dinamita o puma<br />E de vermelho é tingida a rua<br />A escuridão invade o que retorna<br />Na espera de sermos levados<br />Ao vértice do ômega fetal<br />Assim seremos o que somos hoje<br />O evolutivo ovo do esquecimento fluindo<br />Toda a amálgama da isolada vida<br />Vida que se encontram, se abraçam<br />Em felicitações mil<br /><br />Na fria cidade de alvenaria<br />Não se procura mais<br />O álgido amor<br />Pois, mais uma vez fenece o ano<br />As bombas matam ainda inocentes<br />Tiros festivos fuzilam crianças<br />Braços esticados nas calçadas<br />E nas ruas de alvenaria<br />Rolam Cabeças Cortadas<br />À cada dia aprisionados<br /><br /><br />Na cidade de alvenaria<br />O álgido mor assassinado<br />Por balas é indiferentes<br />Praguejam seus mortos<br />.... e calam-se.....<br /><br /><br />PastorelliAnonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-71747645099294504882011-06-16T11:00:00.000-03:002011-06-16T11:01:34.383-03:00Canto um.Perseguindo-me tenho a vida cheia de pedras e suores, onde procuro desbastar as arestas entulhando o restolho na lixeira do passado; onde o alimento das amizades cria as desilusões de um amor talvez perdido. É uma ressonância de ecos que se misturam a outros ecos vibrando quase na mesma sintonia que vejo fugir o presente por entre os dedos calejados de melancolia. Mesmo assim resisto com moderada valentia me embebedando com a beleza da manhã que se inicia.<br /><br /><br />pastorelliAnonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-75143718618367687102011-05-06T08:27:00.000-03:002011-05-06T08:28:10.053-03:00canção concretacanção concreta<br /><br /><br />a canção<br />cantada<br /> forma<br /> figura<br />da mulher<br />amada<br /> ficando<br /> formada<br />na letra<br />da canção<br /> figurada<br /> em forma<br />de canção<br />cantarolada<br /><br /><br />pastorelliAnonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-180063660174236972011-04-30T10:04:00.000-03:002011-04-30T10:05:25.871-03:00Caca.Sejamos a caça<br />Já nada podemos fazer<br />Enquanto presas<br />Que somos.<br /><br />Até o dia da liberdade<br />Que concederemos<br />A nós mesmos: <br />Nossa liberdade.<br /><br />E então cantaremos<br />A nossa realidade.<br /><br />Em ecos de gritos<br />Para humanidade<br />Contando os dias<br />Antigos, <br />Nossa vaidade<br />Que agora, apenas história<br />- e seus covardes -<br />fizeram da glória<br />de nós cidadãos, <br />apenas punhado<br />de alavãos.<br /><br />Sejamos a caça<br />A caça atraente<br />Há mais graça<br />No viver pulsante<br />Mais atrativo<br />Há mais prazer<br />Convidativo<br />Desde que nós não<br />Nos entreguemos numa<br />Bandeja de prata.<br /><br />É... sejamos enfim, caça.<br />Só de pirraça.<br />Do passar dos dias.<br />E vejamos do que trata<br />a tal caça e com quem.<br /><br />E preparemos o alvo<br />para não ser bombardeado.<br />Que seja avisado<br />de antemão!<br />Para não sermos comidos<br />faz-se necessário conhecer<br />o inimigo.<br /><br />Território---> connectingconnecting<br />connectingconnectingconnectingconnecting<br />connectingconnectingconnectingconnectingconnecting<br /><br />connected.<br /><br />Zona reconhecida.<br />Av. Paulista, seis da manhã.<br />Estrada<br />Quase vazia.<br /><br />Pastorelli / Ana Luísa PelusoAnonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-36678214274812213762011-04-24T08:27:00.000-03:002011-04-24T08:28:08.879-03:00Busca frenética.A esferográfica<br />Não tem o poder<br />De no papel deslizar<br />Como um filme noir<br />Cult movie romântico<br />Político satírico<br />E numa busca frenética<br />Nos abismos de mim buscar<br />A beira de um copo de cerveja<br />Os cristais estilhaçados<br />Por uma bala perdida<br />Que do seu esquecimento partiu<br /><br />A minha esferográfica<br />É uma esferográfica comum<br />Que obedece os elétricos impulsos<br />Que a mão recebe dos neurônios<br />A rabiscar a traçar a riscar<br />Estas palavras frias e soturnas<br /><br />Palavras<br />Sem a concreta transparência<br />Morrem afogadas solitárias<br />Na última gota de cerveja<br />Ao fechar do último bar<br /><br />Minha esferográfica<br />Não tem o poder de transformar<br />O frio em quente<br />De dissipar a melancolia em saudade<br /><br />Minha esferográfica<br />Está estagnada na noite gelada<br />Dos meus olhos que se fecham<br />Ao transpor os umbrais<br />Desta vida torta <br />Concreta sem reta<br /><br />Minha esferográfica<br />No papel desliza<br />Numa busca frenética<br />De encontrar o incontrável<br />De querer o inquerível<br />De achar o não achado<br /><br />Minha esferográfica<br />Mansa repousa<br />Tranqüila calma<br />Ao som de uma<br />Noite fria de setembro<br /><br />pastorelliAnonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-87582227236867149302011-04-12T09:40:00.001-03:002011-04-12T09:40:52.447-03:00bom dia, chuva.bom dia chuva gloriosa chuva<br />não gosto de você mas é preciosa<br />necessária com suas devastações<br />inundações e tudo mais<br />prefiro mais o inverno<br />eu te aceito chuva<br />mas com uma condição<br />chova lá no sertão<br />onde a terra esturricada<br />pede um pouco de sua atenção<br />chova nos campos<br />para que vicejam as plantas<br />alimentarem os famintos<br />mas não chova na cidade<br />justo na hora que eu saio<br />para o cansativo trabalho<br />também não chova<br />quando saio a passear<br />e nunca quando estou<br />no micro a trabalhar<br />aceita minhas condições?<br />então pode chover a vontade <br />ah! mas sem raios e trovões<br /><br />pastorelli.Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-47362919498615239322011-04-04T09:59:00.000-03:002011-04-04T10:00:00.462-03:00Balada do caminheiro.Indo pelo caminho<br />caminhante caminha<br />ante a amplidão<br />do teu destino.<br /><br />Destino destinado as pedras<br />chutar chutando<br />do cauteloso caminho<br />predestinado.<br /><br />Caminhante caminha<br />cuidadosamente<br />debaixo do sol a pino<br />em circunstâncias de perigo.<br /><br />Caminho caminhante caminha<br />caminha o seu destino<br />cautelosamente cuidadosamente<br />em cada esquina.<br /><br />Cuidado caminhante se não poderá<br />uma faca riscando o ar encontrar<br />que interromperá<br />o teu destino.<br /><br />sem data<br />pastorelliAnonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-16596798855996404022011-03-29T09:41:00.001-03:002011-03-29T09:41:50.456-03:00Balada da forma.A forma figura<br />Em forma<br />Ficou figurada<br /><br />Ao fitar a forma<br />Figura figurada<br />Em forma figurativa<br />Foi formada<br /><br />Nesse fitar fixamente<br />Foi transformada<br />Em figura fixamente<br />Focalizada<br /><br />A figura<br />De fixamente focalizada<br />Ficou desfigurada<br /><br />Mas, a figurativa<br />Figura fixamente focalizada<br />Ao ser desfigurada<br />De figura foi<br />Em fina forma<br />Figura formada<br /><br />pastorelliAnonymousnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-16062073743454937982011-03-24T10:39:00.001-03:002011-03-24T10:39:42.710-03:00Balada da forma nº 2.Na tua mente<br />uma forma figura<br />foi formada plenamente<br />com o tema de:<br />forma figurada.<br /><br />Dessa forma figurada<br />fixamente a figura tornou-se<br />figura projetada.<br /><br />Forma figura<br />projetada<br />figura formada<br />ficou figura deformada.<br /><br />Como se tornou figura<br />deformada<br />preciso foi que a forma<br />figura de figurativa forma<br />em fina figura ficasse.<br /><br /><br />pastorelliAnonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-32011016447963849072011-03-17T10:58:00.001-03:002011-03-17T10:58:44.433-03:00Artificialismo.Sentimentos acarretam perda.<br />Você me pergunta:<br />Por que tanto ressentimento?<br />O que demonstra<br />Que você não percebe nada<br />De você não quero nada<br />Nem amor<br />Nem paixão<br />Nem reconhecimento<br />Se ainda não sabe<br />Só quero de você<br />O supremo esquecimento eterno<br />De me esquecer de que sou só<br /><br /><br />O dia brilha<br />Apesar da manhã escura<br />Mas a rua reflete o reflexo<br />No asfalto úmido<br />A pura luz artificial<br />Que um dia foi nosso amor<br />Do nosso sentimento<br /><br /><br />PastorelliAnonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-82071351596862675592011-03-10T09:59:00.000-03:002011-03-10T10:00:26.035-03:00Amor cibernético.A vida corre suave louca branda<br />No fone de ouvido enquanto trafego<br />Nos trilhos urbanos do dia a dia<br />A luz acende o brilho cinzento opaco<br />No final do túnel das esperanças nunca esquecidas<br />Rostos morenos brancos loiros ensandecidos<br />De beleza fria e paz concreta transitam<br />Sua carência sexual pelos cantos da alma<br />Olhos bebem o gás da violência<br />Nos botecos jornalísticos e no sufar internético<br />Devorada pela urbanidade desenfreada<br />A inocência se encolhe nos bueiros poluídos<br />A boiarem nos rios agonizantes<br />Os sonhos se estilhaçam no vidro sujo<br />E a mão permanece a espera do golpe<br />Que fisicamente não se sente<br />Idéias projetos delineiam sentimentos fúteis<br />Sem expressarem a verdadeira sagacidade real<br />O riso se funde no perpétuo irisante<br />Onde infinito da agonia resvala<br />Na linha divisória da felicidade e da alegria<br />Quem me dera ter da paixão<br />O sangue vermelho da sensibilidade<br />E trafegar no fluxo da razão<br />Sem perder o limite da realidade virtual<br />E amar você entre <br />plugs chips software bbs internete...<br /><br /><br />pastorelliAnonymousnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-52406992617064770722011-03-04T08:54:00.000-03:002011-03-04T08:55:14.268-03:00amor acrilicomeu peito<br /> a clara luz do dia<br /> clama pela vórtice do teu ser<br /> lança o laço que laça<br /> o ardor do bico rosado do teu seio fraco<br /> <br /> passa cortante por inteiro<br /> pelo leito e clama<br /> clama e grita <br /> ao contato do teu corpo que inflama<br /><br />meu peito<br /> sussurra e chora<br /> ao beijar o teu ventre derradeiro<br /> corpo acrílico no leito pede<br /> por teu acrílico sexo<br /><br /> silenciosamente penetro<br /> entrelaço amorosamente<br /> teu ser estremecido<br /> sob o jugo do meu ser<br />meu peito<br /> arfa desperto<br /> pelo barulho agridoce do rádio relógio <br /> suspira aliviado pela urina quente<br /> em contato com a fria louça do sanitário<br /><br /> estremece<br /> na tépida claridade do frio<br /> frio que varre<br /> a pouca quentura que há<br /><br />meu peito<br /> a clara luz do dia<br /> lembra a noite quente<br /> saudoso <br /> que ficou no quente leito<br /><br /> apago a pouca luz<br /> que havia no amor recente<br /> se escurece morre<br /> em cima do leito quente que era<br /><br />meu peito<br /> tépido gelado<br /> chora ri dentro do quarto frio<br /> beija no lençol<br /> teu rosado seio que se foi<br /><br />meu peito<br /> morre... afogado<br /> num copo de bar<br /> afogado dentro da noite<br /> melancólica de um sábado<br /><br /><br />sem data<br />pastorelliAnonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-47681136172284630732011-02-15T09:18:00.001-02:002011-02-15T09:18:37.349-02:00Amar.amar é ter força...<br />uma força que seja constante<br />que derruba preconceitos<br /><br />amar é ter força...<br />uma força que seja bela<br />beleza que ajuda enfrentar o dia a dia<br /><br />amar é ter força...<br />uma força que seja meiga<br />meiguice nas horas certas e noturnas<br /><br />amar é ter força...<br />uma força que seja doce<br />docemente abraçar a amada...<br /><br />amar é ter força...<br />uma força que seja sorriso<br />sorriso de um instante alegre de criança<br /><br />amar é ter força...<br />e com essa força transcender<br />a vida totalmente<br /><br /><br />pastorelliAnonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-22118605616753819412011-02-09T10:11:00.000-02:002011-02-09T10:12:49.891-02:00A vida rola.Às sextas<br />Rola a bola<br />No verde pano<br />A vida verdejante<br />Que rola a gente<br />A não lembrar<br />A vida de antes<br /><br />Amarela vermelha<br />Vermelha amarela<br />Se discute as decisões<br />Nas grandes tacadas<br />As frustradas emoções<br /><br />Às sextas<br />No pano verde<br />A vida rola verdejante<br />Jogando a gente<br />Nesta vida delirante<br /><br /><br />pastorelliAnonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-70106610444000267852011-01-31T07:09:00.002-02:002011-01-31T07:12:59.197-02:00Raiva.<div align="justify"><br /><br /><br />Com as costas apoiada na cabeceira da cama, observava o quarto. Pequeno, pouca mobília, a cama, o guarda-roupa embutido, o espelho e uma mesinha onde estava a televisão ligada num filme pornô.<br /><br />Notou, estava tudo limpo, cheirando a higiene. Esticou o corpo e desligou a televisão. Aquilo já estava saturando a paciência.<br /><br />Nisso a porta abriu e ela entrou. Loira, não muito alta, peito firme, cintura delicada, anca cheia, pernas lisas, torneadas, mas o que prendera sua atenção foram os olhos doces, de bondade expressiva, como se neles alojasse a calma precisa.<br /><br />-Escuta. Você precisa ir agora.<br /><br />-O que...?<br /><br />Ela sentou ao lado dele passando a mão no seu cabelo preto.<br />Mesmo calma, sua voz lenta soou como pequeno estilhaço ferindo sua pele nua deixando-o melancólico e angustiado.<br /><br />-Por favor, seja amigo como foi até agora e me entenda.<br /></div><div align="justify">-Está bem. Mas você...<br /><br />-Eu sei, eu sei. Da outra vez, eu prometo.<br /><br />Ficou observando ele se vestir. Até que tinha um corpo bonito, cheio, bem proporcionado, tronco forte, ombros largos, e o que ela mais gostava, tinha os pelos nos lugares certos. Gostava dele, mas ele não podia saber.<br /><br />-Olha, toma.<br /><br />Sobressaltou-se. Distraída não percebeu que ele já estava vestido e lhe oferecia dinheiro.<br /><br />-Não precisa pagar.<br /><br />-Mas tomei seu tempo.<br /><br />-Tudo bem, a gente mais conversou do que outra coisa.<br /><br />E foi empurrando ele para fora do quarto. Ao passar pela sala, notou a silhueta de um homem.<br /><br />-Não deixe de telefonar.<br /><br />Falou segurando a porta meia aberta.<br /><br />-Ok.<br /><br />Já tinha dado uns dois passos quando se sentiu puxado e sua respiração sendo presa pelos lábios dela. Correspondeu sugando o prazer que lhe dava aquela boca. Ao mesmo tempo em que era beijado, sentiu a mão dela na braguilha apertando o pênis por cima da calça com certa força que sem perceber gritou.<br /><br />-Sua safada.<br /><br />Rindo ela entrou fechando a porta.<br /><br />Deu meia volta e desceu as escadas. Do outro lado da calçada olhou para a janela do apartamento. Ela estava sendo abraçada por trás enquanto puxava a cortina. Deu um pontapé na lata de coca que voou longe.<br /><br />-Droga! Como o mundo é cheio de armadilhas e o ser humano é uma merda.<br /><br />Foi embora descendo a avenida em direção ao centro....<br /><br />pastorelli</div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-16832725599507331202011-01-16T08:50:00.003-02:002011-01-16T08:59:39.170-02:00Uma peça em quatro atos.<a href="http://2.bp.blogspot.com/_RB7jWsH9iT4/TTLNyadMTlI/AAAAAAAAAgM/6Y73-hXIIXw/s1600/brasa.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 240px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5562734755734900306" border="0" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_RB7jWsH9iT4/TTLNyadMTlI/AAAAAAAAAgM/6Y73-hXIIXw/s320/brasa.jpg" /></a><br /><div align="justify"><br />Primeiro ato.<br /><br />Reluzente nos trazes finos, com orgulho ostentava im­ponência toda empertigada, ereta, sentada no banco traseiro do carro. Sua posi­ção social dizia para não perder a pose, manter a ostentação sem se desleixar.<br />Amendoados os olhos olhavam pela pequena ja­nela. Não prestava muita atenção. Conhecia por onde passavam. Fazia sempre esse percurso, quase todo dia. O semblante passivo não dei­xava os músculos se mexerem.<br />Não se preocupava James competente, dirigia com mão firme sem sair do itine­rário. Confiante, lentamente James virou à esquerda, subindo devagar a avenida dois. No meio do quarteirão, di­minui a marcha, acendeu o pisca-pisca e encostou o carro em frente à loja. James puxou o freio de mão, desligou o motor, desceu passando pela frente do veículo e abriu a porta para a patroa que esperava vendo os movimentos do chofer.<br />James abriu a porta e respeitoso segurando a maçaneta, ajudou a pa­troa a descer. Devagar, apreciando cada gesto, se excitava saboreando a sensação que causava. A fim de aumentar o impacto, parou no meio da calçada olhando para os lados, e num mo­vimento provocante, eró­tico, com a mão livre, a outra segurava a bolsa, passou a mão no ves­tido justo tentando alisar o amassado por ter es­tado tanto tempo sen­tada.<br />Ao mudar o passo levando a mão procurando algo para se equili­brar, caiu. Tinha quebrado a perna direita, o palito se partira. Gina olhou em volta. Ah! Aqui está, achei, esse servira, disse trocando o palito que­brado pelo novo que fazia de perna para a boneca. Pronto, continuemos.<br />James sacudiu a cabeça demonstrando descon­tentamento. A pa­troa mancava! A perna direita estava um pouco maior, diferença pequena, porém sem perder a pose, mancando ela entrou na loja. Encos­tado no carro, James observava. Lamentava a patroa não merecia isso, que decepção, pensou. Em fim o que poderia fazer além de servir, nada mais.<br />Nisso a patroa saia da loja acompanhada por um funcionário sobrecarregado de pacotes. Prestativo James pegou os em­brulhos e colocou no porta mala, depois abriu a porta dizendo:<br />-Sinto muito senhora.<br />-Obrigada James, vamos embora estou cansada.<br />-Des­culpe senhora se me permite.<br />-O que?<br />-Desculpe senhora não vai ser possível não agora.<br />-Porque James?<br />-A senhora não ouve?<br />-Ouvir o que, James?<br />-Ouça es­tão chamando à senhora.<br />-O que?<br />Ergueu a cabeça, re­almente, ouviu seu nome sendo chamado.<br />-Ah! Justo agora!<br />Colocou a boneca manqui­tola no chão.<br />-James, por favor, não saía daí, vou ver o que mamãe quer e já volto.<br /><br />Segundo ato.<br /><br />Na sala estavam três mulheres.<br />A mãe, a tia, cunhada da sua mãe, e a vó.<br />-Bença vó, bença tia.<br />Cumprimentou educadamente.<br />- Deus te abençoe, responderam as duas quase ao mesmo tempo.<br />- Ah! Gina venha aqui, disse a mãe. Por favor, vá até a casa da tia buscar carvão em brasa para a vó fazer defumação.<br />- Fale para sua prima escolher os que estiverem bem vermelhos, disse a tia.<br />- Cuidado para não se queimar, falou a vó.<br />- Olhe bem antes de atravessar a rua, recomendou a mãe.<br />Ao abrir a porta, Gina sentiu o sol. Tapando os olhos com a mão, olhou o céu claro. As nuvens brancas estavam bonitas, gostava de ficar deitado no quintal vendo as formas que as nuvens cria­vam.<br />Bem lá vou eu, pen­sou, em mais uma missão. Pena não ter trazido James para me fazer companhia.<br /><br />Terceiro ato<br /><br />Ao encostar a xícara nos lábios, começava a se preocupar.<br />-A Gina está demorando, disse a mãe.<br />- Não se preocupe logo ela estará de volta, falou a vó.<br />- Daqui a pouco ela chega, falou a cunhada.<br />Nisso ouviram a porta abrir e fechar.<br />-Ela chegou, disse a mãe se levantando.<br />Instantes depois estava a frente delas a menina, pálida, tremendo, chorando. Assustadas as três mulheres ajoelharam ao redor de Gina.<br />-O que foi, disse a mãe.<br /> O que aconteceu, falou a vó.<br />-Você se machucou, perguntou a tia.<br />Gina não conseguia falar. Deram um copo d’ água com açúcar. A mãe colocou a menina no colo. Com muito custo conseguiu contar.<br />A prima pegara umas quatro brasas e enrolara no jor­nal dizendo:<br />- Olha, se o jornal começar a queimar, volte aqui que te darei mais jornal.<br />E quando ela atravessava o Jardim da Boa Morte, o jornal pegou fogo. Assustada jogou longe as brasas e o jornal incendiado, e viera cor­rendo. As três mulheres olharam para Gina, uma para a outra, e caíram na gar­galhada.<br />A menina coitada chorava. Assim Gina ganhou por mui­tos anos o apelido de Maria da Brasa, tudo por causa da prima.<br /><br />Quarto ato.<br /><br />Gina fechou o caderno.<br />Sorriu vendo sua imagem no espelho do quarto. Então o irmão com a mania besta de escritor, escrevera esse conto sobre o que lhe acontecera há.... Quanto tempo? Uns quarenta anos mais ou menos, ela nem se lembrava mais.<br />Me­xendo nas tranquei­ras descobrira o caderno. Na época dera uma bronca no irmão. Era o seu segredo sendo revelado. Ficou quase uns dois me­ses sem falar com ele. Também quem mandou escrever. Tudo porque, os filhos, os netos, as noras, até o marido tiraram um sarro da cara dela avivando o esquecido apelido.<br />Agora sentia que fora injusta com o irmão. Essa ma­nia besta de escrever! Nisso ouviu vozes. Chamavam por ela. Pegou o caderno e desceu. Eram os netos. Nossa estavam grandes!<br />- Olá, vó? Onde estão os velhos, perguntou o mais moço.<br />- Foram na casa do seu pai, respondeu Gina.<br />- Vamos lá então pessoal.<br />Quando iam saindo a neta mais velha se voltou perguntando,<br />-Vó a senhora estava chorando?<br />- Não, respondeu rápida escondendo o caderno. Vá, vá com os outros, disse empurrando a neta porta fora.<br />Assim que o silêncio voltou a reinar, desceu até a garagem. Rasgou folha por folha, riscou um fósforo e queimou o caderno.<br />Estou queimando o passado, pensou. Não foi ele que disse: temos que enterrar o passado. Depois que o último pedaço tinha sido queimado, saiu fechando a porta.</div><br />pastorelliAnonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-84542077327127543802011-01-11T07:55:00.004-02:002011-01-11T08:12:49.233-02:00Um plano...? Um filme...? Uma vingança...?<a href="http://1.bp.blogspot.com/_RB7jWsH9iT4/TSws-xUb0yI/AAAAAAAAAfE/YMojYu3Nrvw/s1600/umplano.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 158px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5560869096798278434" border="0" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_RB7jWsH9iT4/TSws-xUb0yI/AAAAAAAAAfE/YMojYu3Nrvw/s320/umplano.jpg" /></a><br /><div align="justify">Um plano...? Um filme...? Uma vingança...?<br /><br /><br />Descia a escada quando ela chegou.<br /><br />A esposa nada dissera que ela vinha. Não tinha a prática de receber visitas. Por isso estranhou.<br /><br />Constatou a exuberância feminina de Silvana apagando a feminilidade da esposa. Tendo um sorriso largo, dentes brancos, impunha um não sei o que de atrativo. O rosto oval modulado por uma disciplina estética da beleza, reforçado pelos olhos amendoados, era ressaltado pelos cacheados cabelos sobre os estreitos ombros. O busto de seios rijos, quadril no padrão normal aguçava qualquer masculinidade.<br /><br />- Se eu soubesse que você vinha teria colocado uma camiseta, disse Cláudio cumprimentando.<br /><br />- Não esquenta! Não ligo para isso, respondeu Silvana.<br /><br />- Cláudio gosta de ficar a vontade depois do banho, disse Rúbia como explicação.<br /><br />- Mesmo assim, vou colocar uma camiseta, disse Cláudio subindo a escada.<br /><br />Revirou as gavetas uma por uma procurando a mais nova, bonita, a que ganhara de aniversário. Olhou-se no estreito espelho da porta do guarda-roupa. Na fria imagem refletida sentiu-se satisfeito.<br /><br />No momento que o pé direito começava a tocar o primeiro degrau, estarrecido interrompeu o movimento. O que seus olhos viam a mente não queria registrar como verdade o que via. Não pode ser? O que é isso? Retrocedeu o passo suspenso. Rúbia beijava Silvana num escandaloso beijo. Cláudio retrocedeu até se encostar a parede. As pernas tremiam. Sentiu o frio intenso congelar os sentimentos. Uma pedrada não seria tão forte como a dor arrebentando o peito.<br /><br />Viu seu reflexo no estreito espelho. Com raiva tirou a camiseta bonita jogando longe. Vestiu outra qualquer. Precisava descer. Respirou fundo. Saiu do quarto batendo a porta.<br /><br />Procurou se concentrar na naturalidade dos gestos ao descer a escada como se nada tivesse acontecido. Enquanto conversavam, prestou atenção nas entrelinhas das palavras. Nos olhares de uma para outra. Nos gestos... Não percebeu nada que pudesse denunciá-las.<br /><br />Remoendo o cérebro, perguntou a si mesmo o que deveria fazer. No momento não devo fazer nada. Talvez, mais tarde possa pedir uma explicação à Rúbia. A conversa não estava de nada interessando a ele. Subiu para terminar o trabalho gráfico que vinha fazendo.<br /><br />Fixou no pedestal a filmadora e colocou numa posição privilegiada para que as duas não perceberem. Ligou a filmadora e do micro foi manuseando a câmara. Virava para a direita, para a esquerda, acionava o zoom, deslocava, congelava a imagem, filmava as duas nos abraços e beijos.<br /><br />Ao mesmo tempo maquinava uma pequena vingança. Durante aproximadamente, uns trinta minutos de gravação, achou suficiente. Retirou a filmadora do pedestal e passou a trabalhar as imagens no computador. Eram cenas explicitas fortes, ousadas em que as duas se extravasaram nas carícias. Ao puxar mais para perto uma cena, em que sobressaia a feição de Rúbia, pode notar a satisfação, o prazer estampado que nunca percebera.<br /><br />Quando terminou o que tinha de ser feito, passou para uma fita, desligou o micro, guardou a filmadora e fechou o pequeno escritório.<br /><br />Eram mais de três horas da madrugada. Não vira Silvana sair e muito menos quando Rúbia foi deitar. Ainda bem. No quarto, com maior cuidado para não acordar a esposa, pegou umas roupas, enfiou na mochila e saiu. Deixou a porta do quarto aberta. Na sala ligou a televisão e colocou a fita no vídeo. Programou tudo para ser ligado automaticamente, dali a duas horas e saiu indo para um hotel.<br /><br /><br />Estava terminando uma cena para um comercial de cuecas, quando ouviu que alguém entrava. Minutos depois, Sandro apareceu.<br /><br />- Olá! Como está?<br /><br />- Estou bem, disse Cláudio cumprimentando o amigo com um<br />beijo.<br /><br />- Já está definitivo aqui?<br /><br />- Sim.<br /><br />- Então deu tudo certo?<br /><br />- Veja você mesmo.<br /><br />Sandro leu :<br />_____________________________________________________________<br />De : Rúbia <a href="mailto:rub@romantic.com">rub@romantic.com</a><br /><br />Para : Cláudio <a href="mailto:clad@dico.com.br">clad@dico.com.br</a><br /><br />Enviada em : 16 de junho de ...<br /><br />Assunto : Perdão<br /><br />Cláudio me perdoe se te magoei.<br />Você saiu repentinamente.<br />Ia te explicar tudo.<br />Mas foi melhor assim.<br />A fita que você deixou queimei.<br />Estou em Roma feliz como a muito deveria estar.<br />Silvana e eu vamos montar um apartamento.<br /><br />Beijos e felicidades<br />Rúbia<br /><br />- Quer dizer que deu tudo certo?<br /><br />- Melhor que a encomenda.<br /><br />- Eu sabia que Silvana não iria falhar. Não esperava que fossem se apaixonarem.<br /><br />- Como você conseguiu convencer ela?<br /><br />- Com uma pequena aposta.<br /><br />- O plano era apenas para Silvana se envolver com minha esposa, para que eu tivesse um pretexto e acabar com o casamento.<br /><br />- Não estou entendendo uma coisa. Ela fala em fita! Que fita é essa?<br /><br />- Ah! Fita! Não estava mesmo no plano. Não desmascarei as duas no ato. Filmei toda a relação amorosa das duas, e no micro trabalhei as imagens. O que deu um filme de uma hora mais ou menos. Fiz duas cópias, deixei uma no vídeo pronto para ser ligado automaticamente, e a outra copia inscrevi no festival Mix.<br /><br />- Puxa! Pena eu não estar presente para ver a cara dela.<br /><br />- Mas o melhor vem agora.<br /><br />- O que?<br /><br />- Ganhei o prêmio de revelação do festival!<br /><br /> - Ganhou?!<br /><br />- Vinte mil reais!<br /><br />- Caramba!!<br /><br />- E vendi os direitos do filme para uma distribuidora, que nesse momento creio já espalhou para o Brasil todo.<br /><br />- Nesse quase dois meses que estive fora, você trabalhou!<br /><br />- Fez boas fotos?<br /><br />- Fiz. Cada uma... Mas não vamos falar de mim não. Vamos tomar um banho, abrir umas cervejas, e ver esse filme premiado.<br /><br />- Sinto muito. Só se for alugado. No contrato de venda tinha uma clausula no qual rezava que eu não podia ter nenhuma cópia.<br /><br />-Que chato!!<br /><br />- Chato nada. Vamos tomar um bom banho, sair, dançar, festejar sua volta, a minha liberdade e começar a gastar esses vinte mil reais.<br /><br />-Isso mesmo. Vamos lá então.<br /><br />pastorelli</div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-66445149452834333012010-12-18T12:52:00.003-02:002010-12-18T12:55:44.641-02:00O papagaio.<a href="http://4.bp.blogspot.com/_RB7jWsH9iT4/TQzLKHfBsjI/AAAAAAAAAd4/AHwSn80V-3s/s1600/papagaio.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 288px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5552035815309292082" border="0" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_RB7jWsH9iT4/TQzLKHfBsjI/AAAAAAAAAd4/AHwSn80V-3s/s320/papagaio.jpg" /></a><br /><div align="justify"><br />O cam­pinho como era cha­mado o ter­reno baldio que fi­cava atrás da casa àquela hora estava va­zio. O que lhe proporcionou uma alegria safada.<br /><br />Queria testar primei­ra­mente antes de mostrar aos amigos o papagaio que fizera com ajuda do pai na noite anterior.<br /><br />Olhando para os lados viu que o dia estava exce­lente. O vento so­prava docemente o que prometia boa diversão. Paci­ente esticou a li­nha e sem muita dificul­dade conseguiu colocar o papa­gaio no ar.<br /><br />A linha quase totalmente esti­rada produzia na sua mão vi­brações pequena que ao seu comando o papagaio subia, descia e com pequenos toques na linha fazia com que ele embi­casse ora para a esquerda, ora para a direita.<br /><br />Já previa a estupefação dos amigos, as ex­clamações de admiração. Veriam que agora eles tinham um compe­tidor à altura, sor­riu satisfeito.<br /><br />Nisso ao dar um puxão um pouco mais violento, a linha perdeu a força. O pipa estava caindo. Largou a lata de li­nha e saiu cor­rendo. O campinho não era grande, mas o vento para desespero do ga­roto arrastou o pipa para o outro lado da rua.<br /><br />Estava quase perto do pipa caído no asfalto quando viu surgir o carro vindo pelo lado es­querdo. Aflito ele acelerou as pernas e gritando e gesticu­lando os bra­ços procurou chamar a atenção do mo­torista.<br /><br />Porém o veí­culo au­mentou a velocidade não dando oportunidade para que ele che­gasse a tempo para salvar o papagaio. Com os olhos fixos cheios de lá­grimas pegou os destroços do chão e com passos lentos en­trou em casa.<br /><br />Pastorelli</div>Anonymousnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-32641449632506976752010-12-13T08:43:00.004-02:002010-12-13T08:52:03.793-02:00O MENINO E O TIO.<div align="justify"><a href="http://4.bp.blogspot.com/_RB7jWsH9iT4/TQX6HEa8FFI/AAAAAAAAAc4/mmjdRD7Au1U/s1600/mazzarope.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 240px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5550117115156763730" border="0" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_RB7jWsH9iT4/TQX6HEa8FFI/AAAAAAAAAc4/mmjdRD7Au1U/s320/mazzarope.jpg" /></a><br /><br />Feito intrépido Rocicler enfrentando a poeirenta estrada, o velho caminhão apelidado carinhosa¬mente de Mazzarope resfolegava em mais uma viagem transportando o pessoal.<br /><br />Em pé na carroceria junto com os outros, ele se equilibrava numa disfar¬çada brincadeira para ver quem permanece¬ria mais tempo em pé. Brincadeira estúpida, não gostava. Preferia ficar deitado no assoalho de tá¬buas brancas que exalava cheiro de cevada con¬templando o céu azul, mas como estavam em mais de vinte pes¬soas era obrigado a participar dessa brincadeira boba.<br /><br />Seus olhos castanhos esverdeados claro lembravam os olhos da vó dardeja¬vam um inquieto brilho de raiva, duro, ma¬goado, de quem es¬pera uma oportunidade, e quando ela chegasse não iria perdê-la, ah! não, não iria perdê-la por nada, seria seu passaporte para a vida futura.<br /><br />A humilhação quei¬mava na mente como ferro em brasa. Os ouvidos martelavam as gozações, as risadas ao verem ele sem calça, nu, pelado na frente de todos. O tio, irmão mais velho da sua mãe, segurando sua calça era quem mais go¬zava da sua cara. Como odiara o tio, odiara aquele momento. Seus olhos fuzilaram o tio, seus dentes rangeram um contra o outro num ódio imenso. Nada pudera fa¬zer, a não ser se esconder. Num safanão arrancara a calça da mão do tio e fugira. Ah! Ele não perdia por esperar.<br /><br />Che¬gavam à cidade.<br /><br />Para¬riam na casa do tio como faziam toda vez que havia matança de porcos, para a distribuição do quinhão perten¬centes a cada uma das fa¬mílias. Era nesse momento que ele iria ter a chance. Era só ficar de olho aberto, vigi¬ando.<br /><br />En¬quanto o velho Mazzarope atravessava a rodovia en¬trando na cidade, revia os acontecimentos que gostaria nunca ter acontecido. Descendo do ca¬mi¬nhão no pátio da fazenda, a pri¬meira coisa que viu foi os porcos sacrifi¬cados. Um estava em cima da mesa sendo destrinchado pelas mulhe¬res, o outro boiava num tacho de água super quente, e logo mais adi¬ante, perto do chiqueiro, um terceiro guinchava e se esperneava perce¬bendo seu des¬tino. Por fim, se rendendo deixou-se esfaquear pela mão firme do tio que decidido enterrou fundo a faca pontuda na carne do animal espirrando sangue que fora recolhido numa grande caneca.<br /><br />E quando arrumavam as coisas para vir em¬bora, o tio teve a infeliz idéia de arran¬car sua calça na frente de todos. O que lhe doía não era o fato de ficar nu, as gozações, os deboches, as ri¬sadas das meninas, das mulheres, e sim, o não poder se defender, o não poder revidar o tio sendo obrigado ao vexame.<br /><br />Vigiando os movi¬mentos viu quando o tio ao chegarem foi deitar-se para um pequeno e leve descanso. Esperou até que o tio fechou os olhos e devagar, sem fazer ru¬ído, chegou bem perto. Sentia até o hálito do ronco.<br /><br />Não esperou mais. Desceu a mão em cheio, foi um tapa estrondoso no rosto do tio que assustado não teve tempo de segurar o so¬brinho que em desabalada carreira fugia do quarto.<br /><br />A partir desse dia nunca mais falou com o tio.<br /><br />Pastorelli </div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-36964579197606017002010-12-05T08:54:00.004-02:002010-12-05T08:56:54.350-02:00Meu pai.<div align="justify"><a href="http://3.bp.blogspot.com/_RB7jWsH9iT4/TPtvpQqoaiI/AAAAAAAAAa4/NlVpwYFKvOQ/s1600/Slide5.JPG"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 240px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5547150120675994146" border="0" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_RB7jWsH9iT4/TPtvpQqoaiI/AAAAAAAAAa4/NlVpwYFKvOQ/s320/Slide5.JPG" /></a><br /><br />Embriagado ele não perdia a consciência. Lembrava-se de tudo o que havia feito e dito. Parecia que o álcool desobstruía o seu inconsciente, onde há muito tempo guardado no sótão da sua vida, estava o porquê de agir como agia.<br /><br />O que não conseguia dizer sóbrio, não sei por que motivo - talvez timidez, acanhamento, inferioridade ou mágoa - alcoolizado ele soltava a língua e toda a sua dor vinha à flor da pele. Não precisava do álcool para incutir, para ter coragem. Pois certa vez, estando sóbrio, defendeu-me a ponto de se atracar com um sujeito maior que ele. Fato que muito me deixou contente. Foi como se tivesse dito que me amava.<br /><br />A partir de então, passei a vê-lo com outro olhar, de outra maneira, e penso, comecei a compreendê-lo melhor. Ele não era de muitas palavras, falava quase nada. Era preciso ler nas entrelinhas dos seus gestos, nos vãos dos teus olhos, como dizia minha mãe: ”É só olhar nos vãos dos teus olhos para saber se mente ou não”.<br /><br />Um moleirão, do meu ponto de vista, eu, que sempre o comparava com os tios, passados todos esses anos, mais de vinte anos da sua morte, repensando a vida percebo que o compreendia e ele sabia disso, mesmo não dizendo a ele.<br /><br />Era um acomodado – e este jeito de ser foi à única coisa que herdei dele - mas não era covarde. Não possuía ambição, muito menos inveja. Apenas ressentia-se de algo que nunca descobri.<br /><br />Em sua visão modesta, o que tinha era suficiente. Para que querer mais? Não tinha jeito e não sabia ser carinhoso. Criado num ambiente rude, sem carinho nenhum, a maior parte da vida sem os pais, viveu a adolescência e a juventude sob o comando férreo do irmão mais velho. Talvez, isso era o motivo do seu ressentimento.<br /><br />A meu ver, seus dois maiores defeitos foram: não ser ambicioso e o impulso desenfreado pela bebida. Não ter ambição até que não é defeito, porém, beber, ah! Este era terrível. Todo o dia chegava meio embriagado. As sextas então! Por ser dia de fundição, serviço pesado, terminava mais cedo, ele e os amigos, principalmente se tudo corria bem, sem acidentes ou atraso no planejado, iam para o bar festejar o dia bem sucedido.<br /><br />Ah! Chegava em casa trançando as pernas, falando pelos cotovelos, repetitivo, xingando, blasfemando, nunca se referindo à mulher e aos filhos, sempre aos parentes, acusando-os da vida que levava. Quantas vezes à mesa, suado, sujo, fedendo, querendo jantar. E, enquanto esperava a mulher esquentar a janta, dormia sentado. Chegava a passar a noite assim, quando não escorregava para o chão. A mulher e os filhos não tinham força para levá-lo para a cama. Um homenzarrão de quase dois metros, uns oitenta quilos ou mais, como tirá-lo do chão? Ali ficava. A única coisa a fazer, era jogar um cobertor por cima dele.<br /><br />O mais espantoso era seu relógio biológico. Todo o dia no mesmo horário, antes de todos, ele acordava. Tomava banho, fazia café, buscava pão, alimentava-se e saía pro trabalho. Todos os dias. De segunda a segunda.<br /><br />A mulher mordia-se de tristeza. Para ajudar no orçamento, pedalava sua máquina de costura, cuidava da casa e dos filhos, não deixando faltar nada. Ele não gostava de vê-la costurando para os outros. Ela se angustiava para pagar as despesas que faziam no armazém ou quando vencia o aluguel. Ele não se preocupava. Dizia:<br /><br />“Você é boba, mulher. Fica se matando. Pra tudo há de se dar um jeito”.<br /><br />E pra tudo ele dava um jeito. Não sei como fazia. Comprava fiado no bar, na padaria, no armazém, mas nunca ficou devendo.<br /><br />Se alguém caía de cama doente, preocupava-se além do que devia. Fazia todos os gostos do paciente. Uma vez deixou de trabalhar quase uma semana, só porque a filha doente pediu-lhe que ficasse ao lado dela. Ele ficou. Só saía do lado da filha para ir ao banheiro. Até que um dia chegou o boy dizendo que o chefe estava chamando ele.<br /><br />Quando sofreu o acidente, ao sair do hospital, estava sem dinheiro. Seu irmão comprou os remédios sem que ele soubesse. Durante uma semana ele seguiu as recomendações médicas. Porém, um dia, chegou embriagado. A mulher deu bronca, preocupada e, sem querer, falou que o cunhado comprara os remédios.<br /><br />No mesmo instante sua fisionomia transformou-se. Possesso, despejou um por um os remédios no vaso sanitário e puxou a descarga. A partir deste dia nunca mais tomou nenhum remédio.<br /><br />Anos depois, a mulher disse aos filhos:<br /><br />“Seu pai não está bem. Faz dias que ele não bebe”.<br /><br />Dois dias mais tarde, ao chegar do serviço, respirando com dificuldade, falando pausadamente, pediu:<br /><br />“Me levem ao hospital. Não estou passando bem”.<br /><br />Passou por vários exames e foi constatado tumor no estômago. Operado, um mês depois, veio falecer. Sozinho no hospital.<br /><br />Pastorelli<br /><div align="center"></div></div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-30762251293927840422010-11-29T11:00:00.003-02:002010-11-29T11:03:47.181-02:00Ludo.<a href="http://3.bp.blogspot.com/_RB7jWsH9iT4/TPOj9wFaq1I/AAAAAAAAAZY/D_yAz9Vzl1Y/s1600/ludo.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 240px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5544955847498181458" border="0" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_RB7jWsH9iT4/TPOj9wFaq1I/AAAAAAAAAZY/D_yAz9Vzl1Y/s320/ludo.jpg" /></a> <br />Decidirá logo de manhã enquanto tomava o café.<br /><br />Não deixaria mais os fantasmas se alimentarem das lembranças coladas nos objetos que ao longo dos anos foram se amontoando.<br /><br />Assim, com determinação estava a remexer nos esquecidos empoeirados cheirando a mofo. Mexendo aqui, retirando um objeto dali, foi sendo invadida por uma onda de sensação envolvendo sua alma que, extática, deixou-se levar.<br /><br />Era mais ou menos como uma ferida aberta que a saudade abria levando-a pela surpresa, as forças tomaram outro alento, e como renovada, foi empilhando o que deveria ser jogado fora.<br /><br />De repente escutou um som. Pareciam dados caindo em cima de madeira. O que seria? Procurou. Era um som imperceptível. Mas agora, estava mais nítido, mais alto, mais próximo. Sorriu. Que bobagem pensar nessas coisas! Sua imaginação cheia de filmes... que bobagem. Fez um gesto como se dissesse: Isso é idiotice.<br /><br />Continuou com o serviço. Nisso seus olhos pousou no tabuleiro encostado a parede. Era dali que vinha o barulho de dados. Sim! Era dali. Dava para ouvir com nitidez os dados correndo pelo tabuleiro. Pegou o tabuleiro e colocou em cima de um caixote que estava perto. Não tinha mais dúvidas. O som que ouvia era dali. Olhou para os lados. Onde estavam as pedras. Revirou as coisas. Ah! Aqui estão.<br /><br />Ajoelhou-se em frente ao caixote. Foi colocando as pedras, uma por uma em suas respectivas casas. As amarelas, as vermelhas, as pretas e as azuis, cada cor com quatro pedras. Quando colocou a última pedra no tabuleiro com desenhos gastos, deixando aparecer o rústico da madeira, ouviu alguém chegando. Foi ver quem era.<br /><br />- Ah! O que houve tio? O senhor não era para...<br /><br />- Sim... era... mas...<br /><br />- O que aconteceu, tio?<br /><br />- O seu filho...<br /><br />- O que tem ele?<br /><br />- Está na Santa Casa.<br /><br />- Na Santa Casa? Aí minha Nossa Senhora...<br /><br />- Calma, não aconteceu nada.<br /><br />- Como não aconteceu nada se ele está na Santa Casa?<br /><br />- Ele quebrou só a perna. Já estão trazendo ele para cá. Arruma a cama que ele vai ficar um bom par de tempos deitado sem se mexer.<br /><br />Dito e feito. Quando ela aflita chegou no corredor, vinham trazendo o filho todo refestelado como se nada tivesse acontecido, numa cama de hospital. Junto estavam os primos, os irmãos, o pai, os enfermeiros, todos falando ao mesmo tempo para uma mãe assustada. Ao ver todo aquele alvoroço começou a chorar.<br /><br />- Que é isso, mulher? Larga de ser boba, não vê que nosso filho está bem; disse o pai abraçando a esposa.<br /><br />Arrumaram a cama onde ele ia ficar os três meses deitados. Pouco tempo depois à engrenagem rodava de novo nos eixos.<br />Passados dois dias, o cunhado chega entrando no quarto.<br /><br />- Olha o que eu fiz, diz.<br /><br />E coloca o tabuleiro no colo do sobrinho. E daquele dia em diante a casa não teve mais sossego. Tinha sempre alguém jogando Bodum com ele. Durante os três meses, só se ouvia risadas, torcidas, palavrões, gritos e o barulho dos dados rolando no tabuleiro de madeira.<br /><br />- De quem é a vez?<br /><br />- É a sua.<br /><br />- Não, é a minha.<br /><br />- Não rouba seu ladrão!<br /><br />- Não deixem a vermelha entrar.<br /><br />- Aí, viva! Pensa que vai ganhar?<br /><br />E assim era, quando não eram os irmãos, eram os primos, os tios, as tias, sempre que chegavam corriam lá para o quarto do enfermo.<br /><br />- E aí, vamos jogar?<br /><br />Às vezes as jogadas demoravam em acabar, chegando a avançar a noite adentro. Assim foram os três meses. O tabuleiro ficou gasto. Os quadriculados sumiram. De tanto baterem o copinho em cima e arrastarem as redondas pedras de madeira as cores sumiram.<br /><br />Aqui é a vermelha. Ali as pretas. Amarela no outro canto ao lado da azul. Já sabia de cor a colocação das pedras. Passou os dedos contornando cada linha, cada casa, cada quadrado, ouvindo as vozes, as risadas...<br /><br />Uma lágrima deslizou caindo bem no meio do tabuleiro.<br /><br />Ela se levantou. Da porta olhou para o interior, depois para o tabuleiro e viu todos eles, um por um, ali em volta jogando Bodum.<br /><br />- Não vou... talvez outro dia eu continuo com a limpeza.<br /><br />Saiu fechando a porta e passando a mão nos olhos.<br /><br />As vozes, o barulho dos dados, as risadas, os gritos de ganhei, ainda continuaram por um longo tempo.<br /><br />PastorelliAnonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-26167778865163007302010-11-22T08:55:00.002-02:002010-11-22T09:09:07.972-02:00Intimidade com a morte.<a href="http://4.bp.blogspot.com/_RB7jWsH9iT4/TOpMe0cMVaI/AAAAAAAAAXA/QmqXPvBLEEw/s1600/morte.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 320px; FLOAT: left; HEIGHT: 283px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5542326383789495714" border="0" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_RB7jWsH9iT4/TOpMe0cMVaI/AAAAAAAAAXA/QmqXPvBLEEw/s320/morte.jpg" /></a><br /><br /><div align="justify">O estômago roncava. Sentia uma sensação esquisita. Deveria ser o café que tomara as pressas antes de vir para cá, pensou. Precisava ficar andando de um lado para outro para aliviar um pouco a sensação. Olhou o relógio, três horas da madrugada. Faltava muito tempo ainda. Também porque fora marcar para tão tarde? Na esperança de vir alguém? Seus parentes e amigos eram aqueles que estavam ali. O frio gelava a carne cansada. Ainda bem que não ventava. Nada se extingue, o fim é o princípio. Será verdade? Realmente se for fazer uma análise rigorosa nada se extingue, há sempre uma transformação moldando as coisas. A morte é uma transição da matéria onde à vida escapa por entre os dedos dos sentimentos. Nego a morte para tentar chegar além do esquecimento.Nisso o carro fúnebre entrou de ré no acostamento. Mais um que chegava para a sua derradeira viagem.<br />Os funcionários retiraram um caixão grande, bonito, bem envernizado. Todos comentaram o tamanho do caixão. E o pessoal que o acompanhavam, a maioria estavam vestido de branco.Será pai de santo? Ou uma mãe de santo. Não deu atenção, seguiu para o outro lado, tentando espantar o frio.<br />Andou até chegar no fim do corredor. Ficou longo tempo parado com os olhos mortiços de sono contemplando seu vulto refletido no sujo vidro da porta. Não se reconhecia, ou melhor, se reconhecia, mas certa dificuldade lhe dizia que o que via era apenas uma fútil imagem dele mesmo.<br />Imagem falsa de um ser que desejava estar longe dali. Não era ele, e, no entanto, se virou ao ouvir que alguém se aproximava. Que droga, não podia pelo menos ficar um pouco sozinho com seus próprios pensamentos? Aliviado suspirou ao notar o ruído sumindo na distância daquelas paredes. Abriu a porta e saiu para a madrugada fria. O ar o reanimou um pouco. Deu uma volta pelo prédio velho da prefeitura. Parou em frente à placa. Aquele edifício fora inaugurado por então prefeito Jânio da Silva Quadros. Já era a terceira vez que lia a placa. Voltou a sentar no banco perto da porta.<br />Estava evitando entrar e ver sua mãe no caixão. Não queria ver, não gostava, tinha a impressão que aquela seria à última imagem dela que ficaria gravada na sua mente. Lembrou de uma história que sua mãe vivia sempre contando. E que ultimamente, sempre que se começava a falar em velório, sua irmã contava. O tio Antônio, casado com uma irmã do seu pai, falecera, estava sendo velado em casa.<br />Naquele tempo era raro um defunto ser velado no cemitério. Ele não queria ir, mas como ordem de pai é ordem, foi obrigado a ir. O tempo todo ficou na calçada, nem tinha coragem para entrar e cumprimentar a tia e os primos, por não querer ver o caixão. E aos poucos, aproximava, criando coragem para entrar, e no instante em que estava na porta, transpondo a soleira, de imprevisto uma mulher apareceu gritando atrás de dele: - Aí, o que fizeram com o meu querido irmãozinho. Você não podia morrer, gosto de você. Levado pelo susto, foi empurrando para dentro da sala, quase derrubando o caixão e dando de cara com a cara cadavérica do tio. Ele já era magro, careca, sem dentes, e deitado no caixão envolto em flores, estava pior que a cara do Michael Jackson. Ele começou tremer, a suar, sem saber o que fazer sendo empurrando pela mulher que não parava de gritar, estava quase desmaiando. A mãe vendo a aflição do filho puxou o coitado tirando ele dali. Levou para a cozinha e deu um copo de água.<br />Ele não voltou mais para a sala, mais tarde foi levado para casa.<br />Que ele se lembre esse foi o seu primeiro encontro ou que teve a sua primeira intimidade com a morte. Isto é, que teve uma noção do que era a morte. Das outras vezes fora sempre alguém distante ou vizinho, com o falecimento do cunhado do seu pai poderia dizer que foi a primeira vez que viu a morte próxima dele. Quando os agentes funerários chegaram, ele se distanciou, não quis presenciar o momento da tirada do corpo da mãe da cama e ser colocada no caixão. E grato ficou ao saber que não precisava acompanhar o motorista no carro fúnebre. No enterro do pai, não lembra porque motivo teve que ir junto com o motorista até o cemitério. O pai fora velado em casa, talvez seja por isso. Certos instantes da vida ficam nítidos na mente esperando apenas o momento para vir à tona. É pensamentos que o faz seguir cada passagem da vida sendo ou não necessária. E os pensamentos ora em forma de palavras, ora em forma de cenas quase cinematográficas ajudava a passar o tempo. No início da doença da mãe perguntava freqüentemente o porquê disso ou o porquê daquilo, não se conformava com a situação caminhando daquela maneira, de um jeito que o sentir se tornasse descontrolado, chegando às vezes a perder a paciência. Sentiu a azia aumentar, queimar trazendo o gosto do café na boca. Pensou ir ao banheiro e vomitar, desistiu, não tinha coragem de enfiar o dedo na garganta e provocar o vomito. Foi até a lanchonete, talvez tomando alguma coisa passasse a azia. Pediu uma cerveja e um lanche. Tomava e comia calmamente se despreocupando um pouco com o que se passava a sua volta. Pessoas que vinham e saiam a todo o momento dentro daquele silencio que era o prantear da morte, figura indesejada e que volta e meia aparecia, ou melhor, que sempre esta ao nosso lado, a gente que não a percebe. Riu ao pensar nisso. Tudo isso eram apenas palavras que se juntando a outras formavam o sentir concreto da vida. Era apenas preciso coragem para pronunciá-las. Ele não tinha e nunca tivera essa coragem, essa audácia de expressar o seu sentir em palavras que soassem concretamente a vida, tanto a vida real como a vida irreal. Aliás, chegou à conclusão que sempre vivera com palavras que concretizavam a vida irreal que até aquele momento. Talvez se ele tivesse concretizado mais as palavras em sons e não em pensamentos, pudesse sua vida ter sido outra, diferente, mais dinâmica. Um exemplo disso estava no dia em que sua avó morrera.<br />Não lembrava exatamente do falecimento da avó. Não saberia dizer se já estava morando em São Paulo. E muito menos o detalhe do velório, do enterro, quem estava e quem não estava. Recordava-se de uma cena apenas: da mãe chorando. Estavam numa sala e, sentada na poltrona, sua mãe chorava. Ficou longo tempo observando o choro descontrolado da mãe sem dizer uma palavra. Uma palavra que pudesse amenizar o sofrimento materno. Descobriu que ao ser pressionado não sabia agir ou o que dizer. A avó apesar de ter sido pessoa boa não poderia afirmar que gostava dela imensamente para chorar sua morte. Sentia é claro, mas não era um sentimento insuportável que o tempo aos poucos amenizaria. Esse sentimento bem antes da morte da avó já estava amenizado, o que não conseguiria fazer sua mãe entender. Sentia e até entendia o sofrimento da mãe e dos outros, o que não entendia e, muito menos teria que explicar era o seu sentimento. As fibras da sua mente sofriam e choravam a morte da avó, patético choro e maneira de expressar a dor. Dor que ele guardava apenas para si ao invés de expressá-la, de carinhosamente reconfortar mostrando seu amor para a avó e para com a mãe. No entanto preferiu ficar ali impassível, frio, sem dizer nada, apenas vendo ridiculamente o choro dos outros. Talvez, seu íntimo quisesse ou sentisse menos oprimido, mas quem garantiria que era isso?<br />São coisas e sentimentos que muito tempo depois lhe é revelado. Assim tem que ser, não pode ser de outra maneira. Terminou de tomar a cerveja e comer o lanche. O dia já estava amanhecendo, mas o sol ainda não tinha aparecido. Continuou perambulando de um lado para o outro. O pessoal que passara a noite toda estava uns aqui conversando outros sentados nas cadeiras cochilando. Já sabia antecipadamente que não viriam todos que imaginara que deveriam vir. Nesse momento desejou ter antecipado a hora do enterro. Como tinha marcado para a última hora, teria que esperar até o momento final. A sua mãe seria a penúltima a ser enterrada. Até o presente momento já saíram quase todos os que junto com ela chegaram, ou depois dela. Nisso lhe perguntaram se seguraria a alça do caixão.<br />Respondeu que não, não queria nem chegar perto. Não sentia o peito oprimido, e muito menos leve como deveria ser depois de uma longa opressão emotiva. E mais uma vez descobriu que já passara por isso, por momentos como aquele e com o mesmo grau de sentimento. Começaram o terço e as vozes se elevaram num grau de tonalidade só. De repente, como começou, a reza tinha terminado. O funcionário da prefeitura chegou perto dele e perguntou se fora ele que tinha assinados os papéis. E diante da sua resposta positiva o funcionário disse que os familiares é que tinham que fechar o caixão e levar até o carro fúnebre, que fizesse isso logo para não atrasar, pois tinha ainda outros enterros para fazer e não podia ficar esperando. Diante disso não tendo alternativa, teve que entrar no velório e ajudar o pessoal a fechar o caixão. Evitou olhar o rosto da mãe. Sentia o corpo queimar, o rosto vermelho, pois sabia que todos o olhavam seus movimentos, sua expressão. Durante o trajeto procurou puxar conversa com o motorista para fugir de ter o que pensar. Parando a certa distância da cova, retiraram o caixão e passaram para as mãos dos coveiros. Reinava um silencio suave, sem vento, um sol não muito quente. Logo que a última pá de terra foi jogada e os coveiros deram o serviço por terminado, despediu-se dos poucos parentes e amigos, entrou no carro e foi embora. Mais uma etapa da sua vida estava encerrada ali naquele monte de terra que cobria sua mãe.<br /><br />Pastorelli</div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-14409403.post-34278196377878120192010-11-11T10:50:00.004-02:002010-11-11T11:03:24.187-02:00Descobertas.<a href="http://4.bp.blogspot.com/_RB7jWsH9iT4/TNvm8V9VSPI/AAAAAAAAAVY/WaJOnJXa8qc/s1600/maos.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 240px; FLOAT: left; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5538274091143088370" border="0" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_RB7jWsH9iT4/TNvm8V9VSPI/AAAAAAAAAVY/WaJOnJXa8qc/s320/maos.jpg" /></a><br /><br /><br /><div align="justify">Estavam calados. Um de frente para o outro. E entre eles a toalha tendo em cima a guloseima que trouxeram. O sol brilhava numa meia-luz projetando claridade plácida que a sombra da frondosa árvore proporcionava. Cláudio sentia a morosidade do momento a se deslumbrar no horizonte de suas vidas. Tinha o olhar concentrado no que fazia. Era esse seu jeito, sua característica a lhe dar requinte juvenil. Sandro por sua vez, trazia no olhar o brilho perdido na distancia que ultrapassava aquele momento sereno, as vezes apático, corriqueiro, mas de raro fluir de sentimentos. Pensou em registrar algum som com sua voz de barítono, mas desistiu. Não tinha competência para explicar o que se passava no pensamento. E também não sabia se valia à pena, pois Cláudio talvez não estivesse interessado. É idiotice pensar em falar e ficar quieto.<br />- Idiota! - pensou.<br />Cláudio continuava com a atenção voltada ao que fazia. Comia um pedaço de pizza e bebia coca, isto é, entornava boca adentro o que restara da comida. Ao ver a esfomeação do amigo, uma pequena, mas nítida náusea subiu de suas entranhas, que foi preciso tapar a boca com a mão na tentativa de abafar o arroto. Impossível. No olhar mudo e no gesto silente, Sandro entendeu como desculpa, mas o brilho dos olhos de Cláudio o traíram. Aquela cena revoltava seu estômago. A gula do amigo ofendia o requinte do instante cálido em que estavam. Surpreendido ficou com a justa raiva notada nos sulcos da testa que surgiram. Sandro notara todo o incrédulo ato de nojo que Cláudio tentou esconder em vão.<br />- Ora! Não posso mais comer?<br />Gritou o seu sentimento ofendido. Cláudio quieto, não respondeu. Via na pergunta do amigo, irritação provocativa. Continuou a arrancar pequenos pedaços de grama. De viés olhou a raiva de Sandro.<br />- Bobo! - pensou.<br />Um sorriso sereno, de leve contraiu seus lábios finos. Não podia acreditar que Sandro estivesse realmente bronqueado com ele. Pensando em quebrar o gelo que entre eles se formara, pegou um punhado de grama e jogou no rosto de Sandro. Sandro ao ver a grama cair sobre sua cabeça, rilhou os dentes e praguejou:<br />- Filho da puta! - e ao mesmo tempo jogou o conteúdo do copo em Cláudio.<br />- Seu veado!<br />Depois dessa troca de amenidades, se engalfinharam num corpo a corpo. Primeiro Cláudio pulou em cima de Sandro não dando chance a ele de se safar. Rolaram esparramando tudo o que estava na toalha, copos, garrafas, comida, pizza. Num gesto brusco Sandro conseguiu empurrar o amigo que caiu batendo as costas. Ao pensar ligeiro, Cláudio com os pés na barriga do amigo lançou o corpo franzino longe. Novamente ele estava por cima, tentando esmurrar a cara de Sandro, que procurava aparar os golpes. Num dado momento, sem que conseguissem explicar, talvez por ter girado o corpo, Cláudio perdeu o equilíbrio e quando perceberam suas bocas de leve se tocaram.<br />No mesmo instante, petrificados como se o olhar da Medusa os atingisse, ficaram. Minutos pequenos não se ouvia nem a respiração de nenhum dos dois. O olhar duro um no outro gelava as entranhas. Ao mesmo tempo fizeram uma careta de nojo.<br />-Argh! - fez Sandro.<br />-Argh! - retrucou Cláudio<br />E rapidamente se separaram. Um bem longe do outro. Sentiam a perturbação do inesperado a arder por dentro. Sandro conseguia ver a queimação lavrada num ardor intenso em seu rosto. Não decifrava o acontecido. E principalmente porque se revoltara ao sentir os lábios do outro tocando o seu. Fora um acidente. Cláudio tenso segurava os nervos que tremiam por baixo da pele. Sua raiva extravasava o limite da razão. Com a feição endurecida queria ver o amigo longe. Que a terra se abrisse e engolisse Sandro. E assim ficaram. Sentados. Sujos de comida e bebida e terra. Quietos. Só ouvindo o tempo correr no espaço. Aos poucos Sandro se permitia sorrir ao lembrar da cena. Cláudio ainda meio tenso, perguntou:<br />-Ta sorrindo do que, seu bobo?<br />-Da sua cara de macho ofendido.<br />-Vá encher o saco do outro. Vamos é arrumar as coisas.<br />- Ta certo, Sandro continuava rindo.<br />Cláudio por fim se rendeu. Se descontraiu e caiu na gargalhada. Guardaram o que restou da comida na cesta. E ao se encaminharem para o carro, Cláudio parou o amigo pondo a mão sobre o peito dele.<br />-O que foi? - perguntou Sandro.<br />-Há uma pequena folha de grama em seus cabelos. Espere que vou tirá-lo.<br />E com gesto proposital quase afetado, com delicadeza retirou a sujeira do cabelo do amigo.<br />-Vá à merda!<br />E quase numa retribuição, Sandro abre a porta do carro, fazendo uma saudação para o amigo entrar. Cláudio já estava dentro do carro quando gritou:</div><div align="justify">- Os peixes, os peixes, esquecemos dos peixes.<br />E saiu numa desabalada carreira, voltando logo em seguida exibindo o troféu. Subiram no carro e deixaram o bucólico recanto das descobertas onde ainda a meia-luz da tarde resplandecia ao fundo.<br />Pronto. Colocou o ponto final. Será que gostarão? Não sei. Também pouco me importa se gostem ou não. O importante é que eu gostei de escrever. Clicou no arquivo. Salvar. Fechou o word. Desligou o computador. Apagou a luz da sala e foi dormir.<br /><br />Pastorelli<br /></div><div align="left"></div>Anonymousnoreply@blogger.com0